quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Vinho E Poesia Antologia Poética * Antonio Cabral Filho - Rj

*Vinho E Poesia Antologia Poética*
Organização:
Sandra Veroneze
Pragmatha Editora
Porto Alegre - Rs 2016
*
Meus amigos, estamos lançando mais uma bela obra. Esta sob a verve de uma das mais competentes personalidades literárias do Rio Grande do Sul, Sandra Veroneze. Ela dirige vários projetos e ainda consegue tempo para pensar em vinho e poesia. Por isso convidou 45 escritores, entre poetas e prosadores, para fazermos uma antologia sobre o vinho. Há textos maravilhosos, desde a apresentação, passando por poemas em versos livres, formas fixas e a modernidade entorna a taça, só para avisar que a rapaziada se esfola mas não deixa a poesia morrer na praia. É interessante registar a presença do país estado por estado, mas vou me deter nos predominantes Rio Grande do Sul e Minas Gerais, cada um com uma messe melhor que a outra, qual (?) não sei. Mas ter a companhia de Ronaldo Werneck é muito confortante, sobretudo reforçada pela presença feminina de Clevane Pessoa.
Deixo-lhes os meus blogs de sonetos, onde poderão conferir o Vinho de Baco, incluído no livro:
Sonetos & Cia Etc
http://sonetosdoantoniocabralfilho.blogspot.com.br/ 
Sonetos & Cia
http://acf081314.blogspot.com.br/ 
*

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

1ª ANTOLOGIA CARDÁPIO POÉTICO * Antonio Cabral Filho - RJ

1ª ANTOLOGIA
CARDÁPIO POÉTICO
ORG Claudia Brino /
Vieira Vivo
SP
*

POEMAS SELECIONADOS


VAZIO

Sou um abismo silente
Esperando que entes caiam em mim
Não há apanhadores a salvá-los
E eles caem sempre; e pra sempre
E a cada coisa ou ser que cai
Me erijo um tanto a mais
Destarte, sou pedaços de todos
Um buraco engolindo outros
Mas não quero tê-los somente
Ambiciono sê-los
E eles nunca param de cair; nunca
E a cada ente que cai
Percebo o quão vazio sou


Dyego Cortez

***


COCHICHO 

Ela veio caminhando
toda acanhada

querendo me contar as boas novas

Aproximou-se de mim

com as mãos fechadas
diante do rosto

assim, como se trouxesse
só pra me mostrar

ao abrir dos dedos
- um vagalume


Rodrigo Domit 

***

O GRITO

Na musicalidade dos versos
a rebelião silenciosa
das palavras enobrecidas
que lavram uma busca incansável.

Em cada ponto,
em cada canto pelos ares,
suprindo os desencontros
atrás do reencanto dos sonhares.

Na melodia dos olhares
a insurreição das frases no infinito,
alimentadas pelos sentimentos,
que reagem ao silêncio
insubordinadas
pela necessidade do grito.

Paulo Franco

***


Tentativas

Fiz uma ou duas escolhas erradas,
visando cem ou mil possibilidades de acerto.

Usei mais palavras que devia,
tentando rimar,
e não cheguei nem perto.
Digo, me aproximei um pouco.
Afirmar assim fica mais correto.

Se o erro é o caminho à perfeição,
logo mais estarei certo.


João Victor Martins Ruyz 

***


QUADRO

a massa acrílica
monocromática
finge
incompetente espátula
amontoando
torrões a esmo
que eclodem rosas
no olhar que aguarda
a mamografia

mantra
rosa-lívido

oráculo

Deise Assumpção

***

Aglomeração

no cume
meus pés
cobertos de formigas
trabalhadeiras
eu sou vagabunda
como a onda
que crepita
lá embaixo
pés, mel, dissolução do corpo
no ato do alto.

Vivian de Moraes


***

IMINÊNCIA

No céu silente
a lua 
me espiona...
por isso,
está cada vez mais cheia
de meus segredos.

Tomara que não exploda
revelações
pois não saberei
me advogar.

Maurício Cavalheiro



***


Aldravia

diante
da 
lua
o
poente
enrubesce
João Alberto de Faria e Araújo

***


Golpe

Basta uma palavra
Para mais mil surgirem
Um furacão de adjetivos
Verbos da melhor safra
Ah! E se eles interagirem?
Não devo me preocupar,
Logo virão os substantivos
Armados de advérbios, até um cravar
E vai tão fundo este golpe
Que ao invés de dor
A vítima grita: “Que poesia!”

Maria Vitória de Rezende Grisi 

***

Andar Pra Dentro

O pé devora
A estrada,
A mente
Digere.
Dirige
O passo
O andante;
O caminho
É andar pra dentro.


Cícero Christino

***


HEI DE ELOGIAR

Hei de elogiar a loucura
quando parar de enlouquecer

Hei de elogiar a loucura
quando deixar de rasgar-me

Hei de elogiar a loucura
quando parar de exercê-la
em alma e carne 

Natanael Gomes de Alencar

***


CONSTRUÇÃO

a palavra é adaga
a cortar os pulsos

contra ela
milícias bombas
são inúteis

canhões não têm vez
sequer mordaças

a palavra não se cala
grita ejacula goza

a palavra é adaga
fere, mata
mas também é espera:
seu tempo é todo o tempo 

Luiz Otávio Oliani

***


Mar-cavalo
a Jorge de Lima

'Era um cavalo todo feito em chamas'
a manhã marinha e confundida,
um celacanto vindo do mar 
e tornado outro, pelo e crina.

'Éguas vieram, à tarde, perseguidas'
fêmeas inspirações de deitar as camas
um canto subindo da garganta
e tornadas outras palavras tantas.

Rosa Ramos


***


GRUPO ESCOLAR

Bebia a sombra gorda da mangueira
Naquelas tardes de sol e preguiça

A rua ardia de calor
Andorinhas vinham
Pousar no fio do poste

Ao longe
O rio ruminava águas e mágoas

Na sala de aula a professora
Versejava 
A matemática mormente dos números

E eu longe
Mastigando as palavras dos poemas

Cláudio Bento 

***

CONJUNCTIO

crua a carne que me sacia
vermelha
obelisco que a boca suga e regurgita
em branco, em ânsia, em pressa
crua a carne que me lavra
morna
insone que me adentra e desabita
em riste, em sede
sismo

Cinthia Kriemler


***

QUINTAN'ESSÊNCIAS

Não consigo imaginar
Quintana chorando,
cortando soluços sentidos,
a não ser lágrimas de extrema alegria,
para lavarem suas faces
queimadas pelo arco-íris,
pois a palavra Quintana
sugere criança brincando
alheia a tudo
imune a qualquer risco
longe desta vida
de direitos e deveres
de ordens e obediências
reduzidas a números e papeis,
aliás como Quintana sempre quis.

Antonio Cabral Filho


**

PAI DE FAMÍLIA (?)

Bêbado
de cachaça e raiva, 
ele foi até o berço
e tapou a boca do filho, 
abafando os ecos da fome
que martelavam
em sua consciência. 

Dora Oliveira

**

ALDRAVIA

Vendo
a 
queimada,
Curupira
chora
brasas.


Edweine Loureiro

**

A música guarda todos os meus segredos 
escritos na pauta do meu corpo.
E se molha os olhos, se acende a paixão
que o olhar leve de leve 
um pouco de voz da minha canção!

Giselle maria

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sin son, sin risa


às vezes falas tão pouco
e dizes tão muito

e eu, um tanto de louco
(e nada de sábio)

só busco um sorriso fortuito
destes teus monossilábios 

(J.R. Lima)

****

Reconhecimento

Um poeta, para ser reconhecido,
Tem a morte como passo obrigatório,
Com aquele seu poema nunca lido,
Por três vezes declamado no velório.

Leandro Andreo

***

Albatroz

A ave avista a aventura:
Alcançar a altitude alva,
Aborrecer anjos às alturas.

Assim aventurou-se.
Afoita, alçou armadura aérea,
Aprumou-se.

Ante a amplitude azul,
Alumiou-se,
Acendendo a alma apagada.

Alquebrada, ao anoitecer,
A ave avista avião acelerado,
Amarelando-lhe a alma alvejante.

Assim aventurou-se,
Arriscando as asas albatrozes.
Acuada, abate-se atropelada.

Luciano Marques

**

Causa mortis
(para Renato)

Todos os sintomas,
tudo batia:
os hematomas,
coração que gemia...
em última instância
descobriram: 
morrera de distância.

Michelle Hernandes

**

Dar tempo

Devo pensar na minha dor sem fim.
Sonhar que posso ambicionar teu sim,
não quero... Vai! E que esta vida dê,
na dose certa, a solidão do ser.

Quem tem certeza já desiste, foge...
Havendo dúvidas e medo, nossa!
Por que esperar. Sofrendo escárnio, glosa?
Se a vida deve sobejar – sim! – hoje?

Queres mais tempo? Dar-te-ei tempo, então,
a vida inteira. Reflexão, torpor.
Terás de mim tudo e meu nada, mas...

Que seja breve meu sofrer o não.
Que brote, forte, o renovar, sem dor.
Ao renascer, da cicatriz, a paz.

Nijair Araújo Pinto

***

me dou
em linhas

geometrias 
traçadas a sal

Rosana Banharoli

** 

O GOZO

Uma nota, sustenida pela ponta
dos dedos d'alma
alinhava inusitada melodia
Voz que vai 
polinizando notas diacrônicas....
sentidas
Voz, cujo mais grave agudo
chora um gozo incandescente
da improvável,fugidia, infinitesimal
felicidade

Tony Barreto

***